16.1.10

Um poema de Murilo Mendes, uma instalação de Bill Viola


SÃO JOÃO DA CRUZ

 


Viver organizando o diamante

(Intuindo sua face) e o escondendo.

Tratá-lo com ternura castigada

Nem mesmo no deserto suspendê-lo.

 

Mas

Viver consumido da sua graça.

Obedecer a esse fogo frio

Que se resolve em ponto rarefeito.

Viver: do seu silêncio se aprendendo.

Não temer sua perda em noite escura.

 

E, do próprio diamante já esquecido,

Morrer, do seu esqueleto esvaziado:

Para vir a ser tudo, é preciso ser nada.

 



[O poema foi extraído do livro Tempo Espanhol, editado pela primeira vez no ano de 1959, em Portugal. A instalação de Bill Viola, Room for the St. John of the Cross, é de 1983]

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