31.12.10

Compor

Ser poeta não foi um caminho que escolhi – não é caminho que se escolhe, eu diria. Poeta é como que um lugar de onde se vê o mundo, não uma profissão.

Escolhi, desde o começo, isto sim, foi andar por uma trilha tão entrecortada por outras trilhas, que só posso, mesmo, me definir como um compositor. De poemas, inclusive. E, cada vez mais, de canções e peças que, a ouvidos mais sensatos, não passam de barulhos.

E não estou sozinho nesse esforço de autodefinição. Lembro-me de Livio Tragtenberg e Paulinho Moska dizerem praticamente a mesma coisa, em contextos e épocas diferentes.

Tragtenberg, numa entrevista de 2005, disse: “A coisa melhor no mundo é você chegar num hotel, quando dão aquele negocinho (ficha cadastral) para preencher... Ocupação: compositor, isso é uma conquista. Quer dizer: você viver de música, viver da sua composição, você se colocar como compositor, e eu gosto dessa ideia do compositor, porque eu não sou só um compositor de música, hoje a gente vai ver... Vocês vão ver: eu sou um compositor de... ideias!”.

Já o Moska, numa entrevista que saiu este ano aqui em Belo Horizonte, disse: “Sou um compositor. No sentido de que um compositor é alguém que junta coisas. Componho coisas, não gosto da ideia de especialização. E cada vez mais caminho nessa direção.”

Não posso deixar de dizer que, neste (tão intenso) 2010 que hoje se encerra, “compor coisas” rivalizou, no meu dia a dia, com a demanda cada vez mais crescente de compor a mim mesmo, de me re/compor como sujeito. Creio que não fiz feio. Agora cinquentenário, consegui trocar a hipótese tenebrosa – esboçada no começo do ano – de uma sobrevida por um tipo de vida que, para merecer o nome que leva, exige ser vivida plenamente.

Daí a importância de encontrar, entre as coisas da minha mãe, a recordação da primeira “distinção” que recebi na vida, aos 8 anos de idade: um diploma de honra. Tê-lo conquistado por conta de uma “composição” (nome dado à redação, na época) que fiz ainda menino só aumenta minha convicção de que sou, desde sempre, um compositor.

Nos vemos em 2011! Ao final desta frase ela se transformará num grande abraço

do

Ricardo

12.12.10

Composição como explicação

“Ninguém está à frente de seu tempo, é só que a variedade particular de criar o seu tempo é aquela que seus contemporâneos que também estão criando seu próprio tempo se recusam a aceitar. E se recusam a aceitar por uma razão muito simples,que é a de não terem motivo algum para aceitar. Eles próprios isto é todo mundo em seu entrar na composição moderna e eles entram mesmo, se eles não entram não estão propriamente nela estão fora dela e então entram; mas dentro do que pode ser chamado esforços não-competitivos onde se você não está dentro nada se perdeu exceto alguma coisa exceto o que não é tido, existem naturalmente todas as recusas, e as coisas recusadas só são importantes se inesperadamente acontecer de alguém precisar delas.” [O fragmento acima integra uma palestra proferida por Gertrude Stein em Cambridge e Oxford, na década de 1920. Posteriormente inserido no livro What Are Masterpieces – O Que São Obras Primas, o texto, vertido para o português por Andrea Mateus, foi publicado na revista Modo de Usar & Co. nº 2, em 2009]

5.12.10

Um dos SONETOS A ORFEU, de Rainer Maria Rilke, em tradução de José Paulo Paes

I:3



Um deus o pode. Mas, diz-me, poderia um

homem acompanhá-lo na lira acanhada?

Sua mente é discórdia e nas encruzilhadas

do coração Apolo não tem templo algum.


O canto, como o ensinas, não é o querer

nem busca do que quer que seja de atingível.

Cantar é existir. Para o deus, tão factível.

Mas nós, quando é que somos? Quando ao nosso ser


dará ele de volta a terra e as estrelas?

Não é o que amas, jovem, mesmo que forçasse

a voz em tua boca. Aprende a esquecê-las,


tais canções. Elas passam, frutos do momento.

O cantar em verdade de outro sopro faz-se.

Um sopro de nada. Um alento em Deus. Um vento.

3.12.10

EM ALTO E BOM SOM, NOSSA RESISTÊNCIA ATIVA

CONVOCATÓRIA

O Centro de Referência Hip Hop Brasil, a Família de Rua e o Coletivo Nospegaefaz convidam militantes do hip hop, ativistas dos movimentos sociais e populares, artistas, representantes de organizações da sociedade civil e amigos a participarem do lançamento da campanha DESARME A VIOLÊNCIA EM VOCÊ, nesta sexta-feira, dia 3 de dezembro, a partir das 20h, no Duelo de MC’s, em frente à Serraria Souza Pinto.

Esta ação presta solidariedade irrestrita ao rapper e arte-educador Hudson Carlos de Oliveira, o Ice Band, que foi covardemente agredido domingo passado, em crime de motivação racista e de intolerância, em frente ao monumento de homenagem a Zumbi dos Palmares, no bairro Santa Efigênia.

A partir de agora, todas as sextas-feiras um muro da cidade receberá a intervenção de um artista plástico de periferia, até que o processo judicial se encerre com a condenação dos culpados por este ato de barbárie que fere a dignidade humana e os direitos civis de todos os brasileiros. Em defesa da vida, da liberdade e da justiça, participe.

**********

Nota: Há muito acompanho a trajetória vitoriosa e exemplar de Hudson, colaborador da 6ª edição da revista RODA – Arte e cultura do Atlântico Negro. Ele e Janaina, sua mulher, são meus amigos. Quem quiser saber mais sobre esse triste episódio de visível conotação racista, recomendo a leitura das matérias publicadas pelos jornais O Tempo e Estado de Minas. Recomendo, ainda, e especialmente, a crônica da editora do caderno Magazine, de O Tempo, Silvana Mascagna, que, espero, ajudará os agressores de Hudson a entenderem que, ao contrário dos incontáveis negros anônimos linchados diariamente no Brasil, não raro com a conivência/participação de policiais e o silêncio da mídia, Hudson conta com MUITOS amigos dispostos a fazer barulho junto com ele, para que a justiça prevaleça. [Ricardo Aleixo]

1.12.10

Quer ouvir Paulo Leminski vociferando (a palavra é mais do que adequada) contra tudo

e contra todos, numa entrevista conduzida pelo grande crítico paranaense Aramis Millarch? É só dar um clique aqui.

29.11.10

breves notas

A literatura de José Saramago não é para mim. Não a alcanço. Cheguei a ouvir o escritor português numa conferência aqui em Belo Horizonte, há muitos anos, e não guardei nem mesmo uma pequena lasca da montanha de frases de efeito com que ele se empenhou em justificar sua fama de intelectual público até seus últimos dias. Quis, ainda asssim, ver o filme José e Pilar. Entrei no cinema sem qualquer esperança, ainda que aberto a possíveis surpresas. Que não ocorreram. Os eternos 130 minutos de projeção me fizeram lembrar que, felizmente, havia em casa, à minha espera, 3 livros de Gonçalo M. Tavares, português nascido em Angola, em 1970, guardados numa caixa azul intitulada breves notas. Com um “caderno de apresentação” caprichosamente preparado por Júlia Studart, a edição é resultado de parceria entre a Editora UFSC e a Editora da Casa. Pertence ao livro breves notas sobre as ligações [llansol, molder e zambrano] esta frase: “Um escritor cuja curiosidade sai da folha que está em frente de si no momento em que escreve? O olhar desviado desvia. Porque o escritor não é um leitor que depois de ler a frase pode desviar os olhos para um sitio inexistente e ficar por aí largos minutos ou mesmo horas, num devaneio imaterial. Para o escritor, pelo contrário, os devaneios deverão ser concretos; de tal forma materializáveis que possam se colocados em sacos de plástico.”

22.11.10

Novas

Já está disponível no site da Rede Minas a entrevista – dividida em três partes – que concedi ao programa Imagem da Palavra, levado ao ar no último dia 14 :: Destaque, na entrevista, para as raras imagens de arquivo que mostram a Sociedade Lira Eletrônica Black Maria em ação, em junho de 2000 :: No próximo sábado participo da 4ª edição do FELIT/Festival de Literatura de São João Del Rei, em mesa com os poetas Manoel Ricardo de Lima e Carlito Azevedo, com mediação da também poeta Annita Costa Malufe :: Dia 16 de dezembro Flávio Vignoli e eu estaremos em Maceió para o lançamento da plaquete Mundo Torto, de Gláucia Machado, um dos dois novos títulos da Coleção Elixir :: A outra plaquete da coleção, da qual Vignoli e eu somos os editores, é Melodgramas, de Guilherme Mansur, que ainda não tem data de lançamento prevista :: Para dizer pouco, são duas pequenas obras de raríssima poesia, que Flávio, com sua conhecida expertise (tipo)gráfica, transformou em objetos de uma beleza que só vendo :: Em breve darei a dica de como as duas plaquetes (além da minha, Céu inteiro, de 2008) poderão ser adquiridas.

18.11.10

DICA (IMPERDÍVEL!)

CON(C)(S)(?)ERTO SENSONIAL


No sábado, dia 20 de novembro, o artista Paulo Bruscky apresenta performance sonora CON(C)(S)(?)ERTO SENSONIAL às 18horas, no auditório do Museu de Arte da Pampulha (Av. Otacilio Negrão de Lima, 16585, Pampulha).


A performance marca o encerramento da exposição "P_Bruscky - Uma Obra sem Original" e o lançamento do catálogo, que traz o registro da mostra. O evento é gratuito e a promoção é da Prefeitura de Belo Horizonte por meio da Fundação Municipal de Cultura e do Museu de Arte da Pampulha.


O CON(C )(S)(?)ERTO SENSONIAL seguirá a mesma lógica da versão original apresentada no dia 21 de março de 1972, para uma animada platéia de professores e estudantes universitários.


Logo na entrada do auditório serão distribuídas para cada participante, caixinhas de fósforos estilizadas nas cores vermelho, azul, verde e amarelo. De acordo com a projeção das cores no espaço, a intenção é que as pessoas respondam balançando as caixinhas, dando origem a ritmos que serão reinterpretados por um pianista convidado. O acontecimento será apenas uma das atividades agendadas para encerrar a panorâmica de Paulo Bruscky no Museu de Arte da Pampulha. Além da performance, haverá um bate-papo com o artista sobre o seu trabalho e a experiência de realizar a panorâmica no MAP.


Quem comparecer ao CON(C)(S)(?)ERTO SENSONIAL terá outra surpresa. A partir da década de 1970, junto com Daniel Santiago, Paulo Bruscky iniciou o projeto "Arte Classificada". Trata-se de publicações de anúncios pagos em jornais do Brasil e do exterior, cuja intenção é apropriar-se da folha impressa como espaço expositivo. Ao povoar as páginas dos classificados com proposições artísticas e poéticas, o artista tem buscado meios de interferir no cotidiano do leitor. No sábado, dia 20, ele publicará novamente os anúncios em Belo Horizonte. O público do evento ganhará um exemplar da página do jornal com a assinatura de Bruscky.[Dica extraída daqui].


Data: 20/11/10 - sábado
Hora: 18h
Entrada Franca

11.11.10

Minha agenda

Amanhã, dia 12/11, dentro da programação do Fórum das Letras de Ouro Preto, vou mediar o debate Memória reinventada, que reúne os escritores Ondjaki, Reinaldo Moraes e Rodrigo Lacerda. No domingo, dia 14, às 17h30 – com reprise na quinta e no sábado seguintes, respectivamente às 22h30 e 22h –, vai ao ar a entrevista que concedi ao programa Imagem da Palavra, da Rede Minas. A prosa com a jornalista Guga Barros teve como principal foco o lançamento meu novo livro, mas também falamos sobre performance, música e artes visuais. Na foto, um dos três exemplares do Modelos vivos que eu esqueci em pontos diferentes de uma movimentada avenida do centro de Fortaleza, no mês passado.

1.11.10

Dois poemas de Thais Guimarães, do livro JOGO DE CINTURA (Ed. Dubolso, 1982)



Não encontrei a veia

O ar está parado e as nuvens não são asteróides

monstros marinhos nem fogos de artifício

São apenas nuvens


*


O anjo combalido nada sente, nada vê

Adormece o sono dos heróis

Sob a bandeira da inutilidade:

Nada fiz, nada sou.

O verso foi escrito, reescrito,

E a natureza é morta.

Desde Cabo Verde, tendo Mário Lúcio Sousa como guia, um pouco do mundo KREOL

29.10.10

Uma noite Creuza

Volta e meia me pergunto se a performance, como a entendo e pratico, pode ser vista e ouvida como uma forma de entretenimento. Acho que pode – pelos outros, não por mim, já que me vejo, cada vez mais, sempre que performo, dentro de um rito. Foi assim na emocionante "aparição" da noite de anteontem, junto com os meus amigos do Grupo Creuza (Carlos Arão, Marise Dinis e Marcelo Kraiser), no Fórum Internacional de Dança. Foi. Em tempo: as fotos (e também os trechos em vídeo, que você pode ouver aqui) são de Virgínia Junqueira.






24.10.10

Creuza por um dia

Tenho dito com frequencia o quanto meu projeto criativo deve ao convívio com o repertório técnico-formal e conceitual da dança, o que vem acontecendo desde 1999, quando passei a fazer parte da Cia. SeráQuê?. Daí o prazer com que recebi o convite dos integrantes do Creuza (Carlos Arão + Marise Dinis + Marcelo Kraiser) para presentar, junto com eles no próximo dia 27, quarta-feira, às 20h, no Teatro Marília, dentro da programação do FID/Fórum Internacional de Dança, sua nova “aparição”, intitulada Dissecação e Reconstrução de Danças do Passado. Na noite anterior, dia 26, no mesmo horário, o Creuza terá como convidado Eduardo Fukushima. O preço dos ingressos é um verdadeiro favor divino: meia, R$ 1,00; inteira, R$ 2,00.


22.10.10

Primavera dos Livros: a Crisálida está lá

Quem estiver pelas bandas do Rio de Janeiro não pode deixar de conferir a 10ª edição da Primavera dos Livros. Indico especialmente o estande da Livraria e Editora Crisálida, que levou, entre os livros de seu seleto catálogo, meu mais novo rebento, Modelos vivos.

19.10.10

De novo em Fortaleza

Alegria é poder estar pela segunda vez em dois meses na ensolarada Fortaleza, agora para oferecer, a convite do Centro Cultural Dragão do Mar, a oficina corpo: som : palavra : imagem, que teve início ontem e vai até sexta. Amanhã, dia 20, quarta-feira, lanço o Modelos vivos, às 19h, no Alpendre – Casa de Arte, Pesquisa e Produção, com direito a conversa e leitura de poemas. A organização do lançamento ficou a cargo do meu amigo poeta Carlos Augusto Lima, responsável, junto com a jornalista Júlia Lopes, pela entrevista mais sem pé nem cabeça que já concedi até hoje.

O endereço do Alpendre, que neste 2010 comemora 10 anos de resistência ativa: Rua José Avelino, 495, Praia de Iracema. O preço do Modelos vivos (só no dia do lançamento): R$ 30,00.

16.10.10

Nossa história

Difícil pensar em jornalismo cultural, no Brasil de hoje em dia, sem pensar na beleza que é o trampo competente e honesto feito por Pedro Alexandre Sanches. Além de escrever como quem conversa, Pedro deixa claro o que pensa. E pensa grande, o rapaz: com ousadia, liberdade, coragem. Espiem só este trecho de um post que ele produziu sobre uma entrevista que realizou, para o portal iG, com o rapper Emicida (é das coisas mais profundas que já li sobre como nós, brasileiros, lidamos com as várias formas de preconceito que grassam por aqui): Nesse embalo, quase imediatamente o espelho refletiu para o lado que faltava naquele triângulo: os homossexuais, a homofobia. E eu tenho certeza que todo mundo entendeu o que estava falando, mesmo que eu não tenha tido coragem de declarar ali, cândida e textualmente, que, sim, eu sou homossexual.”

Mulher na presidência

“Talvez eu não viva o bastante para ver uma mulher na presidência, mas sei que esse dia vai chegar”, dizia Américo (1911-2008), meu pai, nos seus últimos anos de vida. Desde o início da campanha presidencial, li em alguns blogs referências ao samba Mulher na presidência, composto e gravado por Aniceto do Império (1912-1993), num bonito disco de 1984, Partido Alto Nota 10, que conta com as participações especiais de Clementina de Jesus, Roberto Ribeiro, Martinho da Vila e outros bambas. Tenho o tal CD, mas, ocupado com a finalização do Modelos vivos, acabei me esquecendo de procurá-lo. Ontem, um post do mestre Nei Lopes sobre Aniceto e seu partido alto premonitório me fez procurar de novo a bendita gravação. Vi, depois de encontrá-la, que a música já havia sido disponibilizada no youtube. A ela, portanto, com alegria e esperança – para o Brasil seguir mudando.

14.10.10

Alfacinha para o Egossauro

O grotesco é quase sempre, porém, um "arranhão" na crosta dos protocolos sociais, é uma visão incômoda do abismo das aparências superficiais. De fato, pode ser muito incômodo tomar consciência de que, em zonas de sombra do que vimos chamando de "espaço público", o máximo de "democracia" pode ser aquilatado pelo mínimo de qualificação humana, como tem demonstrado o Big Brother Brasil: o indivíduo sem nenhuma qualidade social é a estrela do show, é como se a palavra boçalidade precisasse de três "bês" (BBB) para ser grafada.

Não raro, a poesia expõe esse tipo de incômodo melhor do que a prosa de argumentos, a exemplo do excelente poeta mineiro Ricardo Aleixo, que indaga: "O que faz de um humano, humano? (...) Os sonhos dos políticos são da mesma matéria de que são feitos os sonhos dos humanos?" [Muniz Sodré, teórico da comunicação, jornalista e escritor, em artigo que pode ser na íntegra aqui]

18.9.10

IMPROVISUAIS: ACABOU, NÃO TEM MAIS

COMUNICADO

A convite da professora, poeta e ensaísta Vera Casa Nova, organizei a mostra de poemas gráficos IMPROVISUAIS, integrando-a ao ciclo de atividades que marcam a minha chegada à casa dos 50 anos, no último dia 14/09, conforme amplamente divulgado na imprensa mineira.

Hoje pela manhã, ao montar a mostra, fui surpreendido por dois atos de violência contra minha obra. No primeiro caso, uma estudante pisou, inadvertidamente, numa das peças, saindo do local – e é a esse gesto que dou o nome de violência – como se não tivesse quebrado o vidro de uma das molduras.

Cerca de 20 minutos mais tarde, depois de ter fotografado o estrago provocado pela distraída aluna acima mencionada, vi o momento exato em que um energúmeno travestido de estudante pisou propositalmente na obra, enquanto eu falava ao telefone.

Com uma câmera fotográfica/filmadora em punho, parti na direção do rapaz, que continuou a investir contra o meu trabalho, ignorando o alerta dos colegas que o acompanhavam.

Trêmulo de ódio e impotência, consegui registrar, em poucos segundos, o triste símbolo de uma universidade que, decididamente, já não parece ser um lugar seguro para a poesia/arte – razão pela qual decidi cancelar a mostra.


Ricardo Aleixo – poeta e artista visual

17.IX.10

17.9.10

IMPROVISUAIS & coisas mais

Hoje, a partir das 19h30, na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG, será aberta a terceira e última das atividades programadas para marcar a passagem dos meus 50 anos em 5 décadas: a mostra de poemas gráficos Improvisuais. Aproveitarei para dizer alguns poemas do Modelos vivos, meu novo livro, que poderá ser adquirido ao preço promocional de R$ 29,00.

Na foto acima, detalhes dos trabalhos – ainda sem as respectivas molduras – da mostra, que surgiu, é bom que se diga, de uma iniciativa da professora, poeta e ensaísta Vera Casa Nova, uma amiga e parceira de longa data. Em tempo: Muito obrigado a tod@s que me enviaram mensagens (aqui, por email, celular ou no facebook), no dia 14, pela meu aniversário.

13.9.10

Amanhã tem mais

O lançamento do Modelos vivos ultrapassou as minhas melhores expectativas, levando até o Café com Letras uma enormidade de gente de astral MUITO alto, como o designer gráfico Flávio Vignoli, com quem tricotei um pouco sobre a Coleção Elixir, parceria nossa, que em breve reaparecerá com novos títulos.

Sobre o lançamento em si darei detalhes outra hora, porque ainda tenho muito o que fazer com relação à festa de amanhã, quando abro a mostra de poemas visuais extraídos do livro e apresento uma versão “aditivada” do Música para modelos vivos movidos a moedas, junto com o violonista Alvimar Liberato.

Além do repertório de peças sonoras já mostradas recentemente em São João Del Rei e em Itajaí, resolvi incluir no roteiro as canções que compus nos últimos meses – as líricas de algumas delas podem ser lidas no novo livro –, entremeadas a trabalhos de outras épocas: tem samba, baião, samba-canção, balada com acento jazzístico e o escambau. Em tempo: terei dois convidados especialíssimos na apresentação/festa de amanhã, meu 50º 14 de setembro.

2.9.10

Estou a poucas horas

de colocar “minha enorme mão/ de Maiakóvski/ da periferia” no meu novo livro (esse verso é de uma lírica que incluí no Modelos vivos, e que vou cantar, acompanhado pela guitarra de Alvimar Liberato, no próximo dia 14). Quem mora em outras cidades, desta vez, pode ficar tranquilo. Além do site da Livraria e Editora Crisálida [compras diretas, com pagamento em cartão de crédito, boleto bancário ou transferência bancária], os que se interessam pela minha talvez-poesia agora poderão fazer seus pedidos nas lojas e nos sítios das livrarias Cultura (em Campinas, Brasília, Porto Alegre, Recife e Fortaleza), Travessa, Martins Fontes e Saraiva e na loja da Pró Século, em Uberlândia.





29.8.10

Belorizonte, Belzonte, Bolorrizonte, Velhorizonte

Por email, alguém – mais um alguém – me pede para falar algo sobre a literatura mineira, e eu só consigo replicar, com gentileza que, bem sei, pode ser tomada como chacota, que “Minas são muitas etc.” Meu desafiante, digo, interlocutor resolve deixar por menos. Que eu fale, então, sobre a “produção literária na Belo Horizonte contemporânea”. Enquanto penso numa forma de escapar da pergunta sem conquistar mais um desafeto, abro a antologia Belo Horizonte – A cidade Escrita, organizada por Wander Melo Miranda, em 1996, e leio um pequeno texto de Ivan Ângelo – “Começam a dispersar-se os artistas da nova geração”, publicado no Diário da Tarde, em 27 de abril de 1960. Nessa data, minha mãe, Íris, que me esperava para setembro, completou 42 anos. Me emociono com a coincidência e pouso o olhar no seguinte trecho do artigo, com sua doída atualidade: “Há na província uma reação invisível contra a atividade intelectual, algo que vai aos poucos roendo os sonhos do artista. A província não opõe nada ao ato criador, não há um choque, uma guerra, um combate honesto. É areia movediça que vai enterrando aos poucos. Se ao menos houvesse luta. Mas não. O que há é um simples absorver, um indiferente desconhecimento da atividade artística, um silêncio, uma incapacidade de julgamento, uma falta de vivência da coisa arte, uma falta de interesse, de estímulo, de ambiente, de crítica, de gosto, de público. O artista na província é uma figura quixotesca pronta para a luta, mas encontra o campo vazio. Sua figura é até ridícula, quando não grotesca. Nada se opõe a ele. Pode fazer o que quiser, provocar ou acomodar-se, ninguém nota. Ou, se nota, é migalha demasiado insignificante para sua fome de realização.”

26.8.10

Minha linha

Finalizado em meio ao trabalho de luto pelas mortes dos meus pais e pelo fim do meu casamento – desde janeiro deste ano vivo sozinho na casa que agora abriga o LIRA –, Modelos vivos resultou, graças aos deuses, como expressão daquela alegria a que só podem ter acesso os que descem ao fundo mais fundo do poço.

Por isso o colorido da capa, que dialoga com a lírica reproduzida abaixo (em breve vocês poderão conhecer também a música correspondente), escrita em 2008: “Minha linha” tornou-se para mim, na fase mais aguda da crise, uma espécie de mantra, ou melhor, de ponto cantado pessoal.

Para ser totalmente fiel aos fatos, devo confessar que a inspiração para a capa do Modelos vivos – vinda do emaranhado de linhas de diversas cores que pende de uma das paredes da minha casa-laboratório – é anterior à decisão de incluir no livro esta “letra de música”. Acho que funcionou.

PS: Que as pessoas que gostam de mim não se preocupem, por favor. O que tinha de ser, foi. Como tinha de ser. O que estiver para chegar, que chegue. Como tiver de ser. Quando for a hora.


Minha linha



Que o dono da fala

nunca

permita que eu saia

da linha

a linha que

quanto mais torta

mais posso dizer

que é a minha


Sempre fui

meu próprio mestre

e é sem tristeza

que conto

que ainda não aprendi

nada

não me considero

pronto


Em matéria

tão complexa

quanto a arte

de entortar

a linha

que nem a morte

há de um dia

endireitar

21.8.10

50 ANOS EM 5 DÉCADAS

Agora vai: Modelos vivos sai da gráfica nos próximos dias, diretamente para as bem fornidas estantes da Crisálida Livraria e Editora, no edifício Maleta – e, esperamos, para as de outras boas casas do ramo de qualquer parte do Brasil. O lançamento será no dia 11 de setembro, sábado, a partir das 11h, na livraria Café com Letras (rua Antônio de Albuquerque, 781, Savassi). Na terça-feira, dia 14, às 19h30, no mesmo local, comemoro meus 50 anos, apresento a leitura-concerto* Música para modelos vivos movidos a moedas e abro uma pequena mostra de poemas visuais extraídos do livro.

Para completar a semana “50 anos em 5 décadas”, no dia 17, sexta, às 18h30, na Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG, a convite da professora, poeta e ensaísta Vera Casa Nova, inauguro a mostra de poemas gráficos Improvisuais, apresento a performance homônima e, claro, aproveito a chance de conquistar, entre os estudantes, alguns possíveis leitores para a minha talvez-poesia. Em tempo: a capa do livro – na verdade, todo o projeto gráfico – é fruto de uma parceria minha com o talentosíssimo poeta, designer e editor Bruno Brum. A ele e ao Oséias Ferraz, proprietário da Crisálida, meu muito obrigado: sem os dois, meu Modelos vivos ainda seria, a esta altura, apenas um projeto de livro.

* É domingo, 12h24: acabei de falar ao telefone com um querido amigo, o guitarrista, violonista clássico, violeiro e arranjador Alvimar Liberato, e ele manda dizer que tocará comigo na noite do dia 14. Desde 1984, quando nos conhecemos, Alvimar é, para mim, simplesmente um outro nome para... música. É isso.



4.8.10

Domeneck

Desde Berlim (ou Berlimbo, conforme o astral do dia), onde vive, o poeta Ricardo Domeneck faz o que pode para inserir alguma nova visada crítica no ambiente da poesia brasileira. Vide o novo vídeo que ele acaba de produzir, The poor poet (after Carl Spitzweig). Para que tenham a dimensão exata da – sensacional – proeza de Domeneck, reproduzo a tela de Siptzweg que o poeta afirma ter “encenado”.